Escola tratará da importância do voto consciente, em um período de incertezas na política |
Em tempos conturbados na política (e no mundo do carnaval também, diga-se de passagem), a necessidade do voto consciente permeará o desfile da Paraíso do Tuiuti ano que vem. Para abordar o tema, a atual vice-campeã da Sapucaí terá como fio condutor a surpreendente história do Bode Ioiô, que de tão famoso, acabou eleito vereador em Fortaleza, em 1922, num ato de protesto da população da capital cearense.
A proposta da escola é manter o tom crítico que a ajudou a arrebatar a Avenida este ano, quando apresentou o enredo sobre a escravidão e os cativeiros sociais da atualidade. E embora pareça até folclórica, a narrativa que inspirará o carnavalesco Jack Vasconcelos é real. Está contada, inclusive, no Museu do Ceará, onde o bicho permanece até hoje em exposição (empalhado, claro).
Ioiô teria chegado a Fortaleza com retirantes da seca de 1915 no Sertão. Sem ter como cuidar do caprino, seu dono o vendeu para uma empresa britânica na cidade. Mas, inquieto que só, o bode fugia para perambular próximo à Praça do Ferreira, frequentado por escritores, atores, músicos e outros artistas cearenses.
“Pelas ruas de uma Fortaleza que se desejava chique que o bode, símbolo de uma cultura sertaneja que se queria suplantar, ganhou fama em suas idas e vindas diárias. Daí que se acredita vir seu famoso nome, Bode Ioiô. O caprino tinha livre trânsito pela cidade, sem ser incomodado pelos fiscais da Intendência, adentrando vários estabelecimentos comerciais, sobremaneira os cafés, onde desfrutava do carisma de muitos e de vários tipos de regalias. Era um bode boêmio”, descreve o Museu do Ceará.
Até cachaça davam ao animal. Entre as muitas peripécias espalhadas sobre ele, conta-se que Ioiô comeu a faixa de inauguração de um cinema, andava de bonde e costumava levantar a saia das moças. Nas eleições de 1922, muito antes do voto de protesto para o Macaco Tião na prefeitura do Rio (em 1988), o bode foi um dos mais votados para vereador de Fortaleza, numa época em que o pleito acontecia em cédulas de papel.
Não assumiu o cargo, obviamente. Mas o bicho, que morreu em 1931, virou tema de livros e é uma das estrelas do Museu do Ceará.
'ME DÁ UM DINHEIRO AÍ'
O anúncio oficial do enredo, que ainda não tem título, será nesta sexta-feira, a partir das 21h, na quadra da azul e amarelo. Na ocasião, a escola de São Cristóvão vai celebrar seus 66 anos de fundação, numa festa com participação do Cordão do Bola Preta e da Beija-Flor. O público está sendo convidado a ir fantasiado para o evento, e quem estiver caracterizado pagará apenas R$ 10 na entrada.
Além da Tuiuti, a Imperatriz é a outra escola do Grupo Especial que já tem tema para 2018, também com uma abordagem crítica. Na volta dos carnavalescos e cenógrafos Kaká e Mário Monteiro à Sapucaí, eles desenvolverão o enredo “Me dá um dinheiro aí”.
A julgar por esses dois primeiros temas, a escolas manterão em 2019 a pegada política de 2018. Isso acontecerá mesmo após elas terem decidido, numa polêmica plenária no fim de fevereiro, pelo não rebaixamento da Grande Rio e do Império Serrano, contrariando o regulamento do carnaval. Na ocasião, Mangueira e Portela votaram contra a medida.
Foi a segunda virada de mesa consecutiva na Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Em 2017, após acidentes graves nos desfiles da Tuiuti e da Unidos da Tijuca, as agremiações já tinham optado por não haver rebaixamento. A beneficiada, na época, acabou sendo a escola de São Cristóvão, última colocada naquele desfile.
Por Rafael Galdo
Link original: O Globo - RIO
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